domingo, 4 de março de 2012

Fazenda Monte Alto





Existem pessoas que tem o privilégio de viver em um mundo à parte. Às vezes esse mundo chega pronto, basta tomar posse, outras vezes é conquistado com luta e suor, outras vezes passa desapercebido na vida de quem o habita e só com olhos de quem vê de fora percebe-se o quanto é encantador....

Chiara


Estive em um mundo desses, a fazenda centenária, desde o princípio propriedade da mesma família, produtora de café na região de Guaxupé, MG fica assim, num mundo à parte, mas feito de muito trabalho, planejamento, cuidado e esmero, em cada detalhe: das pedras em que se levanta a casa, à divisão de talhão (quarteirão) dos terrenos de plantio, para a melhor eficiência do trabalho, da limpeza das trilhas à gentileza dos ajudantes.
Na chegada tarde da noite, um céu negro pontilhado de estrelas tantas que formam um corredor, a via láctea e o cheiro inconfundível do mato  já nos sinalizam as experiências sensoriais que iremos viver.   
Pomar de jabuticabas com paineira ao centro
Pomar de jabuticabas
Açude



Na paisagem, ladeando a estrada de terra, colinas de café plantado e mata natural dividem os olhares. Parando em uma encosta, descendo uma das várias trilhas preparadas, mas há pouco descoberta, encontra-se uma queda d'agua, uma pequena cachoeira, que serve para nos refrescar, excitar e descarregar.
Nosso encontro com a natureza tem um lado de espiritual, místico: árvores enormes nos contemplam, sábias e magestosas, como devem ter contemplado gerações anteriores; o canto das cigarras em ondas indo e vindo, aumentando de volume até que sintamos a vibração percorrer nosso corpo todo entrando pelos ouvidos e alcançando nossos pés, sem dúvida nos elevam.
vista da casa para a parte da plantação e da mata
Jequitibá

A casa em si, é de um cuidado extremo, foi restaurada e ampliada tendo em vista sempre a harmonia com estilo da primeira construção na segunda metade do séc. XIX. Percebe-se o carinho e o bom gosto dos proprietários em cada objeto garimpado, na mobília de época formada ora com peças doadas pelos familiares, ora com peças adquiridas; na mesa bem posta para as nossas refeições, no retratos pendurados que nos contam a história daqueles que por lá passaram, a história da família, a história da fazenda.

Ao fundo foto do Barão de Guaxupé










Sou muito agradecida por ter sido tão bem acolhida e ter feito parte dessa história, mesmo que apenas por alguns dias!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Uma casa Consagrada


A não ser por um rosto de Cristo no frontão no alto da fachada, vista da calçada de uma arborizada e tranquila rua do bairro do Butantã  em São Paulo, a casa não denuncia em nada sua real função, para o observador comum, é apenas mais uma casa católica da região. Porém, já ao atravessarmos o portão de ferro, podemos começar a intuir que aquele rosto não estava ali isolado, protegendo seus moradores, como é comum nesses casos. Temos uma estátua da Virgem Maria a nos receber e anjos a purificar-nos antes da entrada propriamente dita.

Quando a porta de madeira se abre, somos envolvidos em outra atmosfera, inundados por cantos gregorianos que saem de uma pequena saleta a nossa esquerda, na verdade uma capela, que nos convida a sentar e rezar ou apenas contemplar. Isso por si só já nos modifica, como se entrássemos em outra esfera de realidade. Olhando o ambiente da sala principal, não precisamos nos esforçar em nada para perceber a  devoção aos Mestres Ascencionados e a profunda  religiosidade, inspirada no catolicismo e no cristianismo ortodoxo russo, que impera no ambiente e impregna cada detalhe, cada canto, cada ser que ali habita. Nada está ali por acaso, cada objeto tem um sentido e uma função: ou somos guardados pelos centenas de ícones e santos, protegidos e inspirados por eles, ou somos lembrados a todo tempo que o divino está presente e que a beleza e delicadeza fazem parte da divindade.

Capela

Capela

A casa toda, seu jardim, sua edícula, os consultórios, os quartos, tudo segue a risca o mesmo preceito e temos mesmo a sensação de que ali dentro estamos em devoção, mais perto dos seres de luz, talvez em contato direto com eles. E isso não se dá apenas pelos objetos alí colocados, mas por serem realmente consagrados a Saint Germain, e por consequência a todos os Mestres. Há uma entrega que diviniza a tudo, e essa é a grande diferença entre essa casa e outra qualquer repleta de objetos religiosos ou artísticos.
sala principal

Somos convidados a parar, a agir de forma diferente do corriqueiro, a nos interiorizar. Somos levados a uma quebra do padrão de comportamento usual e se tivermos condição de perceber isso e aproveitar esse mometo, saímos da casa diferentes, mais centrados, mais completos e com uma certa euforia como uma criança que descobriu uma nova brincadeira.
Ali temos arte, música, cultura, mas acima de tudo e envolvendo tudo temos espiritualidade. 
Atelier de Ícones e consultório - Gilberto Safra

Hall da escada
detalhe na copa
Lord Maha Chohan - consultório Kleber Barreto
Pequena Cítara sobre orgão


detalhe de cristaleira com diversos seres mágicos










domingo, 5 de fevereiro de 2012

Leilão de jardim


Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?



(Este é o meu leilão.)

Cecília Meireles



Esse versinho sempre me comove, pois me vem o sentimento da aridez do viver sem um jardim, a ânsia de ter um lugar muito especial, mesmo que corriqueiro onde habita um mundo todo próprio, fantástico, daqueles que só vemos nos filmes de Walt Disney. 
Se a casa é o ninho, temos que ter a árvore, é uma questão de sobrevivência e sanidade. Para quem vive numa grande cidade uma simples árvore já muda o cenário e também a energia. Quem tem sensibilidade para observar e ver além, poderá olhar e ver um mundo à parte em cada galho e cada folha, no entrelaçar dos ramos, no perfume das flores quando houverem, na delicadeza de borboletas amarelinhas. Quando conseguimos observar as pequenas coisas, estamos mudando nossa vida prá melhor. Esse olhar nos leva à outra dimensão, energética e espiritualmente subimos uma "oitava". 



Nos sentimos melhor e às vezes até mais felizes.

Quem não gostaria de sair de casa e ver esta praça?


Praça Conde de Barcelos



Com um caminho gostoso a seguir...



Ou com uma árvore assim na porta de casa?




Ou mesmo um jardim no seu muro


Os jardins horizontais, que podem caber mesmo dentro da sua casa


 Paisagista Gica Mesiara

e podem até ser bem pequenos e colocados nos lugares mais inusitados, servindo também como uma opção para a culinária...


 Alexandre Fang


Aquilo que tem real importância é podermos sentir, nem que somente por um breve momento no dia, esse prazer no contato com a natureza, com o perfume, com um mundo que te enche de energia. Isso, tenha certeza, mudará o seu dia.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Trajetória" Paulo Von Poser - MUBE




Ainda hoje posso apreciar o estado de alegria e encantamento que a arte e seu autor podem produzir! Momentos que nos levam além do espaço e do tempo, num jogo de sensações, sentimentos e reflexões. Nos elevam a um estado em que percebemos o sentido de separar o sagrado do profano, o imanente do transcendente.

O MUBE, recebeu ontem amigos, admiradores, familiares e interessados em arte em geral para a abertura da exposição "Trajetória", 30 anos de exposições do artista Paulo Von Poser, que com seu dom, gentileza e acolhimento natos, transformou aquele espaço humano num templo de conexão com a magia e poesia divinas.


Ao sermos apresentados à sua trajetória, constatamos com alegria que o artista verdadeiro tem esse dom, é transformador de sua arte, do espaço, e toca quem a observa.
Podemos ver já de início o enorme talento e dom para o desenho nas releituras de Albert Eckhout, nos ricos esboços para o Teatro Guarany, nas cidades retratadas em detalhes, que nos mostram no vigor do traço, seu movimento e a diversidade de universos que convivem diariamente. O artista consegue abraçar a todo esse universo numa composição única e quase poética onde as rosas num momento envolvem as cidades e noutro pairam sobre ela com sua suavidade. Percebemos o profundo conhecimento das cores e suas sensações nas mais variadas nuances de muitas obras monocromáticas, mas de grande riqueza e variedade de detalhes mais uma vez quando observamos a cidade através das rosas ou as rosas através da cidade e a sensação é que sempre estiveram juntas.


Ana Costa do Monte Serrat (detalhe)

 Em contrapartida, temos combinações extravagantes de cores e luzes nas intervenções fotográficas e na geometria dos círculos que envolvem as figuras e no todo transformam-se em mandalas. A habilidade e sensibilidade de uma estética toda peculiar que nos aponta no corriqueiro das ruas, janelas, fibras de um bordado, o que não vemos normalmente ou nos chama atenção aos intensos movimentos do pianista ou à textura de uma pétala de rosa.
Toda a obra envolvida numa técnica primorosa e delicadeza que nos remete ao amor com que foi criada e desenvolvida.

Parabéns e obrigada, Paulo!



Rosas bordadas sobre São Paulo (detalhe)

Vista da exposição com destaque para a obra Foto Gigantografia (Azul)


Rosas (recorte sobre madeira)


Esferas da Revolução